31 de ago. de 2011

Justice League #1 inaugura a nova DC Comics, com nada de novo!


Ninguém sabe o que é um super-herói. Eles são estudados, perseguidos, vistos como aberrações ou admirados. Eles são um mistério neste novo mundo. Eles são poderosos mas parecem não se conhecer e necessitam explicar seus poderes para sí mesmos. Eles não se conhecem uns aos outros e vivem cheios de hormônios, sempre querendo se enfrentar e provar sua força. Seus diálogos são forçados e mordazes. Estão cheios de medo e desconfiança em um mundo ameaçador. Ou seja, eles não tem nada de novo!

Foram estes os pensamentos que passaram pela minha cabeça enquanto lía Justice League #1, o primeiro gibi da reformulação da DC Comics, lançado hoje, simultaneamente em forma impressa e digital. A tão propalada reformulação da DC não me surpreendeu em nada nesse primeiro título. Vou ser bem direto: não vou dizer que não gostei, foi divertido, apertei o play e deixei rolar, voltei aos doze anos e lí o gibi com ansiedade e alegria. Mas acho que poderia ser melhor, e bem mais original.

A história em sí é bem narrada, com uma arte sensasional de Jim Lee, sem exageros ou apelações, com muita ação e movimento, bem básica. O enredo mostra o que seria o primeiro encontro entre Batman e Lanterna Verde, com todos aqueles clichês básicos tipo: "Quem é você, o que você pode fazer? Vamos brigar pra ver quem é o fodão". O encontro acontece em Gotham City, com Batman sendo perseguido pelas forças de segurança durante a investigação de uma suposta ameaça terrorista na cidade, o que para o Lanterna Verde é na verdade uma invasão alienígena. Logo o alien aparece e rola uns quebra paus.

As cenas de ação se alternam com os diálogos mordazes, bem superficiais, de Geoff Johns. Somos levados a um texto de apresentação disfarçado de diálogo que deixa claro que o Lanterna é o Guardião deste setor do espaço e que pode criar qualquer coisa que imaginar a partir de seu anel. Batman é um humano sem poderes, mas pode enfrentar qualquer um, e eles quase brigam. Eles também parecem dois adolescentes que ouviram falar de um cara bombado que chegou na vizilhança pra conquistar as garotinhas: ambos querem saber quem é o tal de Superman e enfrentá-lo.


O espírito da HQ é bem adolescente, nada de balões de pensamento com a angústia dos heróis nem grandes deduções filosóficas. Batman é um cara que vive com os dentes pra fora, irritado, perseguido, Hal Jordan é um piadista, se acha o tal e tenta prevalecer sobre Batman. Os personagens são bem definidos, cada um no seu campo, nenhuma complexidade.

A narrativa visual é ágil e simples, extremamente fácil de seguir. Há um convencionalismo na disposição dos quadros que até assusta, parece uma HQ feita realmente pra quem nunca leu um gibi na vida. Os diálogos se emendam em uma continuidade automática e banal, os quadros se sucedem uns aos outros naturalmente. Sem dúvida os autores pensaram nessa facilidade e superficialidade para, como eles pretendem, atrair novos leitores.


Após Batman e Lanterna Verde enfrentarem o alien, na verdade um assecla de Darkseid (que o Lanterna pensam ser uma banda, nossa que engraçado!), e decidirem ir atrás de Superman pra ver se ele sabe algo sobre os alienígenas, (afinal ele é um alien também, nossa, que dedução!), a ação se trasfere para um campo de futebol americano, em Metropolis, onde o jovem Vic Stone, o futuro Cyborg, é apresentado como um ótimo jogador, prestes a ganhar uma bolsa de estudos pelo seu desempenho no campo. Mas ele ainda é um humano comum e tem problemas com o seu pai. Daí tem aquele drama todo e você pensa, o que isso tem a ver? Resposta: nada! Não tem conexão nenhuma com a história, tirando o fato de que o jato do Lanterna, com ele e Batman a bordo, passa por cima do campo e o pessoal tem aquela reação meio Marvels tipo "o que é isso?" "o que são esses super-heróis?", um ponto de vista que é mais humano. Nada denovo.

Então voltamos para Batman e Lanterna Verde, já em Metropolis, Jordan continua fazendo graça e tira um sarro do Morceguinho "eu cuido disso, você fica ai, seu babaca fantasiado". Mas eis que o Lanterna leva um porradaço e ai aparece o novato da vizinhança, o cara que eles procuravam, um Superman garotão, desafiando todos pra uma briga. É o gancho pro número 2.


Esse é o novo começo da DC Comics, mas peraí, cade a Mulher Maravilha? Cadê o Flash e o chato do Aquaman?? Eles simplesmente não aparecem! Ah, tudo bem, ainda temos cinco números pra equipe ser formada e eles aparecerem. Ok, até que não achei isso tão mal. Mas esse primeiro número da Liga da Justiça é meio fraquinho, deixa uma sensação de incompletude no ar. Parece que falta algo mais do que personagens na história.

Sei que é apenas um entre 52 títulos, e é o primeiro, mas fiquei realmente em dúvida se eles vão conseguir atrair novos leitores com isso. A HQ é de fácil acesso, como eu já disse, parece um story board de alguma coisa, é voltada pros teens, tem um clima meio de filme Marvel no meio, com humor alternando ação, tudo que a DC parece precisar. Mas é superficial demais. Um gancho do tipo "vamos brigar seus otários, mostrem o que vocês sabem fazer" ainda prende alguém por um mês? Ainda faz você esperar pra ler uma revista? Eu não acredito.

Tudo bem, eu tenho trinta anos, não foi feita pra mim. Talvez eu não seja a pessoa certa pra analisar. Mas que esta faltando alguma coisa esta, isso eu sei por que são mais de vinte anos lendo quadrinhos. Espero que os novos títulos ajudem a definir mais esse universo onde os heróis são desconhecidos e ainda um mistério. Espero que uma motivação maior do que "vamos brigar agora" surja por ai. Espero que esses clichês de personagens descolados vs raivosos não se repita ad infinitum. Espero um pouco mais de criatividade.

Caso contrário as vendas estrondosas dos primeiros números, que chegaram aos 200 mil no caso do Justice League #1, tendem a não se repetir, elas vão cair de mês em mês e quando a novidade passar, lá vão os editores recomeçar tudo de novo, e o reboot da DC não passará de um puta mico na carreira dos criadores envolvidos.



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